sábado, 26 de abril de 2014

Resenha: Fuga do Campo 14 - Blaine Harden

 "Nas histórias de sobreviventes de campos de concentração, há um arco narrativo recorrente. Forças de segurança roubam o protagonista de uma família amorosa e de um lar confortável. Para sobreviver, ele abandona princípios morais, reprime sentimentos por outras pessoas e deixa de ser um humano civilizado.(...)
                     A história de sobrevivência de  Shin é diferente."  
                                                                                                              (trecho do livro, pág. 21)

Não, esse livro, infelizmente, não é de ficção. Fuga do Campo 14 conta a história de Shin Dong-hyuk (nome atual sul-coreano), a única pessoa na história que conseguiu ter exito na fuga de um dos campos de concentração ainda ativos na Coréia do Norte, onde o tratamento de seus prisioneiros é tão cruel a ponto de ter passado faz tempo do "nível Desumano". 

Shin, ao contrário dos judeus que foram mandados para os campos de concentração nazistas, nunca tinha conhecido o lado de fora pois nasceu de um "casamento de recompensa", onde o casal se casa para ter uma vida ligeiramente melhor, morando em uma casa de concreto com um pouco menos de trabalho.

No campo, os criminosos e 3 gerações depois, que ainda contém o "sangue pecaminoso" de seus parentes, trabalham arduamente até morrer, sem qualquer processo jurídico. 



"Tal como os campos de concentração na Alemanha nazistas, os campos de trabalhos forçados na Coréia do Norte usam o confinamento,  fome e o medo para criar uma espécie de caixa de Skinner, uma câmara fechada e rigorosamente regulada em que os guardas se arrogam controle absoluto sobre os prisioneiros. 
No entanto, enquanto Auschwitz existiu por apenas três anos, o Campo 14 é uma caixa de Skinner com mais de cinquenta anos, um experimento longitudinal ainda em curso sobre repressão e controle mental, em  que guardas criam prisioneiros a quem controlam, isolam e jogam uns contra os outros desde o nascimento."




Uma das coisas que mais me chocou, foi a condição em que os prisioneiros são expostos como:
  • Serem instigados a delatar todos a sua volta, inclusive a sua família. Shin, por causa disso, traiu a sua mãe e seu irmão, quando estavam planejando uma fuga. 
  • Mulheres que se deixam ser estupradas pelos guardas em troca de algum tratamento melhor ou comida.
  • Pessoas que passam a vida inteira sendo tratadas de modo pior que animais, onde não há o mínimo de higiene. Shin passou 23 anos sem escovar os dentes.
              Entre outras coisas....


Além disso, Harden  fala de esquemas de corrupção que a Coréia do Norte estava fazendo para continuar mimando a classe mais alta de seu país  e deixando a sua população em meio a uma fome crônica. Uma família da elite de  Pyongyang vive pior que uma família mediana da Coréia de Sul. 

Deixarei que o livro te mostre mais detalhes sobre essa história....

É um livro muito bom, muito bem feito. Rico em detalhes, prendendo o leitor a cada informação nova.  
Recomendo muito a leitura, mas devo-lhe alertar que é preciso ter estômago para ver o que acontece dentro do campo. 

Para quem tiver preguiça, pode encontrar também o filme, mas imagino que seja pior que o livro...

Falo deste livro com uma atenção especial pois pretendo mostrar às pessoas que estão lendo este post essa história, que neste exato momento está se repetindo. Quem não conhece sua história, está condenado a repeti-la. 





Shin, hoje.

Os guardas eram os seus "mestres", sendo mais confiáveis que as famílias.

Uma das torturas a qual Shin foi submetido.
 

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